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Onde a maternidade acontece


Onde a maternidade acontece

Há uma parte da maternidade que nunca vira foto, e é justamente essa que transforma vidas. A maternidade acontece, na maior parte do tempo, longe dos olhos do mundo. Ela não está nas imagens perfeitas, nos relatos cheios de glamour ou nos momentos que ganham destaque; ela mora nos gestos pequenos, cotidianos, silenciosos, que passam despercebidos para quem não vive essa experiência por dentro.


É nesse território invisível que a maternidade mais profunda acontece, aquela que sustenta tudo o que realmente importa entre mãe e filho. Ao longo dos últimos anos, especialmente com o Conversas Maternas, descobri que sempre que uma mulher compartilha sua história real, sem filtros e sem a obrigação de parecer forte o tempo todo, algo muito importante acontece: outra mãe respira.


Bastam poucas palavras sinceras para que alguém do outro lado se reconheça e sinta um alívio quase imediato, como se finalmente pudesse pensar “então eu não estou sozinha”. Existe um poder imenso nesse reconhecimento silencioso, nessa sensação de que somos muitas vivendo dificuldades diferentes, mas sentimentos parecidos.


Essa maternidade invisível aparece em todos os cantos da rotina. Está no café que esfria enquanto você tenta responder uma mensagem, resolver um problema de trabalho ou acalmar o choro do seu filho. Está na forma como você reorganiza a casa, o dia e até o próprio humor para conseguir dar conta do que ninguém vê: as preocupações constantes, os ajustes internos, as renúncias silenciosas. São decisões tomadas no meio do caos, sem que exista testemunha alguma, mas que moldam a vida da família inteira.


"É ali, justamente no que ninguém vê, que a maternidade encontra sua força mais bonita."

Ela também se revela nas buscas que você faz sozinha, geralmente de madrugada, quando a casa está silenciosa e o pensamento barulhento. É você tentando entender uma fase nova, lendo sobre comportamentos, pesquisando sintomas, procurando explicações que tragam algum tipo de paz. Muitas dessas horas não aparecem em foto nenhuma, mas são parte fundamental da maternidade que quase ninguém comenta — aquela que investiga, que busca respostas, que tenta aliviar o próprio medo enquanto protege o filho.



Onde a maternidade acontece

Nas salas de espera, essa maternidade invisível também tem rosto. É aquela troca de olhares entre mães que não se conhecem, mas se reconhecem instantaneamente. Preocupação, esperança, exaustão, amor — tudo ali, silencioso, compartilhado sem esforço. Existe uma cumplicidade natural quando duas mães dividem o mesmo espaço, mesmo que por alguns minutos, porque ambas sabem que estão tentando fazer o melhor possível em realidades que ninguém de fora conhece de verdade.


E há ainda a maternidade que acontece na cozinha, nos pratos preparados com cuidado e devolvidos quase intactos. Nos momentos em que a seletividade alimentar aparece de novo, e você respira fundo para não perder a paciência. No esforço de explicar para outras pessoas que não é “manha”, não é “frescura”, que seria muito mais fácil se fosse simples como dizem. É uma maternidade cheia de dúvidas, de esforços invisíveis, de tentativas que ninguém nota.


Também penso nas mães que convivem com diagnósticos difíceis, que aprendem termos que nunca imaginaram pronunciar, que passam a organizar terapias, consultas e tratamentos com a naturalidade que só o amor é capaz de construir. É uma maternidade pesada, cheia de medos que quase não cabem no peito, mas que ainda assim encontra espaço para acolher, brincar, ensinar e amar. É uma força silenciosa, mas imensa.

E existe a maternidade considerada comum — a que o mundo olha e não acha extraordinária. A mãe que trabalha fora e tenta chegar a tempo de participar da rotina. A que sente culpa por tudo, até pelo que não deveria. A que equilibra expectativas, cansaço e afeto no mesmo gesto. A que sente saudade de si mesma, mas não sabe onde encaixar essa saudade no meio da rotina. Essas maternidades também são profundas, importantes e exigem um esforço emocional enorme, mesmo quando ninguém percebe.


Escrevo sobre tudo isso porque acredito que a maternidade não precisa ser visível para ser valiosa. Ela não precisa ser perfeita, nem heroica, nem admirada. O que você faz no silêncio, no cansaço, nos pequenos rituais do dia, é o que constrói o vínculo mais verdadeiro com o seu filho. A maternidade invisível se manifesta nos detalhes, e é nesses detalhes que mora o amor mais genuíno.


Se a sua maternidade às vezes parece pequena, silenciosa ou insuficiente, lembre-se de que ela é feita de coragem, de escolhas difíceis, de gestos repetidos que ninguém vê, mas que seu filho sente profundamente. Ela está presente no abraço que acalma, na presença que conforta, na segurança que só você sabe oferecer. Mesmo que o mundo não veja tudo o que você faz, você sabe. Seu filho sabe. E isso basta, porque é ali, justamente no que ninguém vê, que a maternidade encontra sua força mais bonita.


Até breve :)


Geovanna Tominaga

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